sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Ausência de ti


Hoje chove lá fora. Sinto o vento gelado que trespassa as brechas da casa e entranha-se sorrateiramente em mim.
Involuntariamente estremeço sem conseguir controlar um arrepio que invade o meu corpo quente e percorre a uma velocidade estonteante cada poro da minha pele. 
Contemplo com olhar perdido preso algures no templo dos pensamentos, o céu outrora azul coberto de nuvens negras.
Ao longe, ouço a trovoada que se aproxima. Caminha vagarosamente a passos de gigante, fazendo-se anunciar com clarões e rugidos ameaçadores, que rasgam o céu e amedronta-me a alma.
Nesta espiral de sentidos e pensamentos em que me encontro dou por mim pensando em ti.
Descubro-te vagando errante, a percorrer o desconhecido trilho labiríntico do meu inconsciente.
E sinto-te com tamanha intensidade que tenho a sensação de ter teu corpo possante junto do meu.
Vislumbro o teu rosto envolto em neblina que me impede de vê-lo com precisão. Porém, sei-o de cor.
Conheço cada expressão tua. Cada olhar. Cada sorriso teu.  
Tens uma infinidade deles. De todos, o meu favorito é aquele que os teus lábios desenham quando vejo a minha imagem reflectida no teu olhar
Aprisionaste-me com um nó de marinheiro no dia em que o descobri por acaso de um destino que nem tu nem eu acreditamos.  E é este ainda hoje a recordação mais forte que guardo de ti.
Repentinamente interrompes este meu descortino dos teus lábios, e com um movimento meigo mas impaciente reclamas-me em teus braços.
Permaneces imperturbávelmente quanto me procuras.
Acaricio-te o rosto a medo e enquanto beijo ao de leve teus olhos adormecidos, interrogo-me com o que estarás a sonhar?
Olho para o teu braço que me envolve e constado divertida o bronzeado dourado da tua pele em contraste com a minha tão desprovida de cor. E sinto uma pontinha de inveja por essa tua tom moreno, que outrora pigmentou a minha também.
Ouço a tua respiração profunda e sinto teus músculos relaxarem sobre os meus. 
Inalo o teu perfume que embriaga os meus sentidos e guardo a esperança vã que este se entranhe em mim.
Aos poucos, sinto-me adormecer embalada por teu cheiro e aquecida por teu corpo.
E sou inundada por uma sensação de plenitude que desconhecia em mim até então.
Desperto violentamente para a realidade com o rugido furioso de um trovão.
Não procuro com minhas mão cegas encontra-te.
Sei que ali não estás...
Encolho-me em posição fetal e tento controlar as lágrimas que escorrem dos meus olhos. 
Não me queixo nem suplico por tua ausência.
Apensa choro, choro a ponto de sufocar.

E faz-se solidão e noite em mim.