sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O Olho Vivo


Olá amigos, 

Chegou a hora de desvendar a minha escolha literária para o mês de Fevereiro. O Olho Vivo do escritor Cristiano Moreira é o feliz contemplado! E com todo o mérito. 
Um escritor desconhecido para a maior parte de vós, mas que eu acompanho o que escreve há alguns anos.
Este jovem é o autor que dá vida ao blogue http://oolhovivo.blogspot.com/, e um dos responsáveis por ter criado o meu próprio mundo virtual. 
Como já devem ter percebido ou pelo menos desconfiado, é um amigo pessoal. Um amigo muito "precioso ao meu coração, que tomou o doce hábito de te conservar um cantinho privilegiado onde mais ninguém entra." 
Foi com uma quantidade enorme de entusiasmo e alegria que soube que blogue O Olho Vivo ia virar livro! E quando finalmente o tive nas mãos, quando passei os meus dedos sobre o nome Cristiano Moreira o meu orgulho atingiu níveis épicos!!! 
Tinha nas minhas mãos um bocado de uma pessoa que adoro. Algo físico que a par com as lembranças, me vai acompanhar sempre. Não há palavras para tanta vaidade eu sei...! 
Por esse motivo, quando anunciei que seria o escolhido para este mês, perguntaram-me se seria capaz de fazer uma apreciação crítica descomprometida em relação a este. 
Até esta dúvida ter sido levantada nunca tinha pensado nisto. Mas assim que veio ao de cima, tornou-se uma dorzinha incómoda. 
Depois de algum tempo a moer nesta questão e especialmente depois de ler o livro, cheguei à conclusão que sim. Até porque tenho de facto algumas críticas menos positivas a fazer sobre o mesmo. Críticas essas que nada tem a ver com a qualidade dos textos, mas com a edição do livro.
Sendo uma compilação de textos de um blogue, estes deviam ser apresentados com uma ordem cronológica. Do mais antigo para o mais recente. Não sei quem tomou a decisão de os misturar. Ou se isto foi sequer pensado. Mas para quem está a ler torna-se um pouco confuso.
Outra coisa que não gostei foi a ausência de índice. Se noutro género literário é dispensável, num livro de Crónicas faz todo o sentido.
E para terminar, deparei-me com uma ou outra gralha, (gralha e não erro ortográfico) que uma revisão de texto deveria ter  detectado.
Em relação aos textos e a qualidade da escrita do Cristiano, a minha opinião não se alterou um milímetro.
É um escritor que respeito imenso. Com uma sensibilidade acima da média. Um mestre na arte de brincar com as palavras. Descreve sentimentos como poucos o conseguem.
Ri imenso com algumas histórias, especialmente as que relatam partes da sua infância. Textos muito bem escritos, com um sentido de humor quase inocente. As 7 reguadas no primeiro dia de escola... e a luta de espada com os lápis... as aventuras nos torneios em Paris e o episódio de rebentar os pacotes de leites de recreio são alguns dos exemplos que me fizeram soltar uma gargalhada com vontade! Em todos estes houve um pensamento recorrente na minha cabeça..."porquê que isto não me surpreende?"
Mas também houve post's que me tocaram bastante. Especialmente os escritos para os pais. Houve um em particular que chocou-me a ponto de ter de parar e respirar fundo para o conseguir terminar. Conto em menos de uma mão os escritores que conseguiram arrancar-me uma lágrima! Ele conseguiu.
O texto Tiago Malta publicado no dia 27 de Julho de 2007 é palpável a dor e desespero com que foi escrito. Só alguém que passa por uma dor desta magnitude é capaz de escrever e compreender este sentimento. Um texto sem floreados. Cru. Simples. Intimo. E doloroso de ler.
"...Perdi o teu funeral. Sei que levaste um Chipi e uma Coca-Cola contigo. Fui directo ao cemitério. Já não te vi amigo, mas debrucei-me e perguntei-te se querias assistência, chamei o massagista, mas a tua lesão era irreversível."

Resumindo, gostei imenso! Não é, nem nunca será considerado um clássico da literatura portuguesa. Nem é essa a intenção do escritor.
Todavia, é indiscutivelmente um bom livro. Com textos belíssimos, densos e bem construídos. Quanto à poesia, esta é de facto o seu melhor registo.
Porém, apesar de tudo o que acabei de escrever, sei que a minha opinião levantará sempre dúvidas. Afinal "sou suspeita. E quem ama é suspeito".
Por isso não tenho a pretensão de vos convencer quando à veracidade das minhas palavras. Mas vou lançar-vos um desafio. Comprem o livro. Leiam. E apreciem por vós mesmos.

Até breve**