sexta-feira, 29 de junho de 2012

O coração da terra bate ao ritmo dos teus passos II


Encontrei o teu corpo abandonado naquela que é a tua poltrona favorita. Olhavas algo pela janela mas os teus olhos nada viam do que se passava lá fora. Aproximei-me a medo, finalmente deste pela minha presença. Sentindo o teu olhar pregado no meu avancei de encontro a ti. 
Tal como esperava, não me sorriste nem estendeste os braços saudosos do meu corpo. Não disseste uma só palavra perante o inesperado da minha presença, nem o teu rosto conseguiu transmitir qualquer alteração ao ver-me. Permaneceste olhando-me tal como te tinha encontrado, sentado, estático, inanimado.
O silêncio envolveu-nos, paralisou-me e sufocar-me as cordas vocais. Em vão tentei falar, dizer-te alguma coisa, qualquer coisa... mas o discurso que horas antes te tinha preparado era naquele momento tão pateticamente supérfluo. 
A ausência de som tornou-se dolorosamente desconfortável. Tudo era tão atípico neste reencontro, até o silêncio cúmplice que ambos tanto apreciávamos.
Sem saber o que fazer, abandonei a racionalidade e deixei-me guiar pelo instinto. Sentei-me no teu colo, tomei-te nos meus braços e abracei-te. Abracei-te como se a tua sobrevivência dependesse desse abraço. Embalei-te como se fosses um menino pequeno assustado, o meu menino. E perdi a noção do tempo enquanto os meus dedos desenhavam círculos invisíveis nos os teus cabelos.
Finalmente senti-te quebrar, despertaste da apatia em que os teus sentido estavam mergulhados e encostado a mim choraste. Choraste num som mudo todo o desespero esmagador da tua perda. 
Sussurrei-te ao ouvido palavras doces, apesar de saber que nenhuma delas ia fazer a mais pequena diferença. 
A dor não se atenua com palavras, aprende-se a viver com ela. Com o tempo aceita-se a realidade e lentamente supera-se. Foste tu que me ensinaste isso, lembraste?
O cansaço levou uma noite inteira para te vencer e às primeiras horas do dia, de um novo dia, vi-te finalmente adormecer. 
Foi aí soube que não era de palavras que precisavas, era de mim. Por isso continuei a murmurar-te ao ouvido, para que me ouvisses até mesmo nos teus sonhos, 

"Eu estou aqui, tu não estás só. Nunca te abandonarei."