quinta-feira, 20 de setembro de 2012

"As gajas"


Olá amigos,

em Junho passado na Feira do Livro comprei o livro "Crónica Feminina" de Inês Pedrosa. Tal como o nome indica, este livro é uma complicação de crónicas que a escritora publicou no Expresso, durante os anos que com eles colaborou. 
Não é novidade para quem acompanha o blogue que esta mulher é uma das minhas escritoras de eleição. Tanto, que quando me questionam sobre o meu livro favorito, o primeiro que me vem à cabeça é justamente o "Fazes-me Falta". 
Por isso imagem o meu estado de consternação quando à uns dias atrás ouvi alguém compará-la com a Margarida Rebelo Pinto. 
Estive tentada a furar os olhos da infame! É como comparar uma belíssima posta de salmão com uma sardinha esquelética... mas adiante que não é sobre isso que vos quero falar. 
Sempre me incomodou que se dirigissem a mim como "gaja". Independentemente do tom que usassem a proferir esta palavra, é coisinha que não soava bem aos meus ouvidos.
Porém, "As gajas" é justamente o título de uma das crónicas presentes neste livro, e por incrível que pareça não é que Inês Pedrosa conseguiu fazer com que passasse a gostar deste termo? Chego ao ponto de assumir: eu sou uma gaja muitíssimo feliz de o ser!

Passo a explicar porque:

" As gajas são mulheres que vêm com uma deficiência genética que lhes impede o acatamento do Modelo Cultural Feminino." 
"... metem-se a concorrer com os rapazes em assuntos de ginástica mental, esquecendo que nada é tão feio como ver uma mulher pensar, com princípio, meio e fim, lógica e estratégia - escancarada-mente, à homem. Ainda se pensassem em silêncio - mas não; as gajas têm a mania de pensar alto e bom som. Em vez de se exibirem, como é próprio das mulheres, através da beleza e do paramento, rivalizam com os homens no espectáculo da mente." 
"A mulher que é mulher deve ser doce, serena, compassiva, uma pomba de paz piando fininho em qualquer circunstância. As gajas, pelo contrário têm a mania de bater com a mão na mesa e interrogar, recusando confundir paz com conivências mansas, quase vegetais..."
"... Com a agravante de que algumas gajas acumulam: são lindas de morrer e espertas de fugir a sete pés."
"... Às gajas em compensação, ninguém bate. Podem esfolar-se a trabalhar, mas nunca serão vítimas. Não, as gajas não fazem chantagem sentimental. Podem chorar de desilusão noites a fio, mas homem nenhum as ouvirá dizer que se atiram da janela se eles as deixarem - é isso que as torna tão irritantes. Ou fascinantes - para os poucos que já vão sendo capazes de entrar no admirável mundo novo delas."

Estes são pequenos excertos daquela maravilhosa crónica e que aconselho uma leitura na integra! O humor mordaz e irónico de Inês Pedrosa é sublime!
Hoje, assumo-me totalmente como uma gaja!! Pelo menos segundo estes parâmetros!

Até breve**