domingo, 23 de outubro de 2011

Ouve-me na linguagem muda dos beijos


Hoje tento transformar os meus pensamentos em letras mas, estes parecem temporariamente em vácuo.
Olho para a folha branca e dou-me conta que tudo o que escrevo, escrevo para voltar atrás e riscar. Esta outrora limpa encontra-se agora cheia de borrões de tinta preta.
Escondem um ajuntamento de palavras ocas e desconexas que em vão busco dar sentido.
Procuro transmitir algo que sinto. Porém, tudo o que escrevo parece nada me dizer.
Desisto. Afasto o bloco de folhas irritada. Sinto-me frustrada e agastada só de as ver.
Sem conseguir explicar a motivação que faz mover os meus dedos, estes levam-me até ti!
Curiosamente olhar-te faz-me sorrir. E de forma imperceptível toda a minha frustração dissipa-se.
Volto a aproximar o bloco de folhas e começo a desenhar subtilmente dezenas de letras numa dança frenética e descontrolada. Tento escrever à mesma velocidade que os meus pensamentos voam. Estes movem-se ao som da nossa música. Nossa sim, porque sempre que a ouço, é-me impossível lembrar de outro que não de ti.
Perco a noção do tempo contemplando o teu rosto. Transmitem-me qualquer coisa que não consigo identificar nem traduzir. Mas que aquece-me violentamente o coração.
Serias tu capaz de me esclarecer, porque tanto gosto de fitar demoradamente teu olhar de cor de mar? Ou porque entristece-me tão profundamente saber que em breve deixarei de os ver?
Com estas interrogações ainda a atormentar o meu consciente, sorrio e sinto uma empatia irracional e inexplicável por este ser maravilhoso de cabelos inundados de sol e olhos de céu que abruptamente invadiu o meu caminho.
Vejo-te mas não te conheço. Quero conhecer-te mas não sei que palavras inventar para te prender a mim. Quero descortinar o teu corpo, desmontar o teu pensamento e voltar a remontá-lo com a certeza que apenas tu te conheces melhor que eu.
Consegues-me ouvir enquanto lês? Quero que saibas que todo Tu fascina-me. E sinto a plenitude atingir o seu auge, com a lembrança de ver desenhado nos teus lábios o sorriso com que me presenteias quando me vês.
Costumo ler e reler incontáveis vezes o que me escreves. Adoro ler-te sabes?
Usas a palavras com doçura e inspiração. Mas porque é que isto me surpreende? Se fazes da criatividade e imaginação profissão!
Ocultas por detrás das letras, uma personalidade enigmática e indecifrável que dizem-me muito mais de ti, que as tuas palavras.
É isto que preciso que saibas. E que não sei como te dizer. 
Apenas isto que lês.
Escuta com atenção, estou a sussurrar-te bem baixinho.
Não tentes apurar o ouvido, só o coração alcança a linguagem dos beijos que te estou a murmurar. E só este consegue ouvir o que te estou a dizer.