Olá amigos,
Portugal tornou-se hoje o quinto país a aprovar (na generalidade) a proposta de co-adopção de crianças, por casais homossexuais. Verdade que ainda não dá para soltar foguetes, pois para isto ser uma realidade é ainda necessário uma votação final global (após a discussão da especialidade), e a promulgação do diploma por parte do Presidente da República... Ainda assim, é uma excelente notícia.
Fiquei extasiada por se estar a dar um passo em frente para atribuir direitos a uma minoria que é ainda muito descriminada pela nossa sociedade e consequentemente pelo Direito que nos regula, coisa que confesso causa-me imensa espécie! Parece que em determinados aspectos legais, ainda existe cidadãos de primeira e de segunda... e isso é uma realidade incompreensível para mim.
Porém confesso que tinha algumas reservas em relação a este assunto. Não que ache que um casal homossexual não seja capaz de dar a uma criança todo o amor, estabilidade, transmissão de bons valores precisamente igual ou melhor que muitos casais heterossexuais, mas por certo receio que esta adopção por casais do mesmo sexo numa sociedade como a nossa, ainda extremamente homofóbica, fosse ser um fardo demasiado pesado para aquele pequeno ser.
Ficava a imaginar como seria na escola, com os "coleguinhas". Tenho a certeza que vocês lembram-se o quanto as crianças podem ser cruéis e implacáveis. O bullying é uma palavra recente mas o comportamento abusivo é algo que passa de geração em geração e que todos, mais ou menos fomos sujeitos a isso quer passiva quer activamente.
Mas depois de ter discutido este assunto com a C. que é totalmente a favor e que combateu o meu argumento com a força do amor dado àquela criança tudo é contornável. Vim para casa a reflectir sobre isto e tive daquelas epifanias que fez-me constatar uma realidade tão evidente mas que ainda não tinha feito o paralelismo.
A realidade destas crianças que indiscutivelmente vão ser marcadas por serem filhos de casais homossexuais com todas as consequências inerentes a isso (pelo menos até isto se tornar banal), não é diferente da realidade que eu vivi quando era garota! Os meus pais não era homossexuais, mas eu fui uma criança marcada por ser diferente. Era bem mais pequena do que todas as outras, com uma aparência bastante frágil e tornei-me um alvo fácil à maldade infantil.
Tenho a dizer-vos que foram anos extremamente difíceis emocionalmente. Para mim que sofria os abusos directamente mas também para a minha família que inconscientemente usava como escape da minha frustração. Mas o facto de ter uma família fantástica, estável, sempre disponível para mim, onde o amor e dedicação nunca por um instante só faltaram, foram mecanismos fundamentais para ultrapassar esta fase com êxito.
O amor deles era o meu porto seguro e apesar de pequenita eles não deixaram de me instigar a ser mais e melhor. De exigir sempre o máximo de mim, nunca duvidando das minhas capacidades, mesmo se eu própria o fazia!
Seria cínica se vos dissesse que este período da minha vida não deixou marcas, afinal ninguém vai para a guerra e sai de lá sem cicatrizes, mas deu-me ferramentas fulcrais para enfrentar a vida. Ganhei calo desde cedo. Perseverança e resiliência foram qualidades que adquiri em doses extra por necessidade de "sobrevivência". Aprendi a ser cautelosa, inteligentemente reservada e a saber defender-me sozinha.
Hoje, tenho a certeza que esta má experiência fez de mim, modesta a parte, mas um mulherão preparado para enfrentar qualquer dificuldade que me apareça à frente.
Sim, tive uma infância e adolescência complicadas por ser diferente. Mas e daí? não morri por isso. Só me tornou mais forte! A C. tem toda a razão, quando refutava o meu argumento com o poder do amor. Foi a grandiosidade deste sentimento que sempre existiu em grande quantidade à minha volta o que mais me ajudou. Ele não fez os problemas desaparecer, mas foi fundamental para conseguir ultrapassá-los!
Falo da minha experiência, como podia falar da de qualquer outro miúdo que por alguma motivo é um pouco mais diferente do que a generalidade.
Por isso eu tenho a certeza que se estes casais homossexuais foram bons pais, souberem transmitir todo o apoio e esclarecimento que o garotito vai precisar para compreender e aceitar a realidade dele, mas essencialmente se entre estes existir amor incondicional que só existe entre pais e filhos, tudo é contornável e tudo se ultrapassa!
Por isso viva à co-adopção e viva a uma sociedade mais justa e igualitária!
Até breve**
Mas depois de ter discutido este assunto com a C. que é totalmente a favor e que combateu o meu argumento com a força do amor dado àquela criança tudo é contornável. Vim para casa a reflectir sobre isto e tive daquelas epifanias que fez-me constatar uma realidade tão evidente mas que ainda não tinha feito o paralelismo.
A realidade destas crianças que indiscutivelmente vão ser marcadas por serem filhos de casais homossexuais com todas as consequências inerentes a isso (pelo menos até isto se tornar banal), não é diferente da realidade que eu vivi quando era garota! Os meus pais não era homossexuais, mas eu fui uma criança marcada por ser diferente. Era bem mais pequena do que todas as outras, com uma aparência bastante frágil e tornei-me um alvo fácil à maldade infantil.
Tenho a dizer-vos que foram anos extremamente difíceis emocionalmente. Para mim que sofria os abusos directamente mas também para a minha família que inconscientemente usava como escape da minha frustração. Mas o facto de ter uma família fantástica, estável, sempre disponível para mim, onde o amor e dedicação nunca por um instante só faltaram, foram mecanismos fundamentais para ultrapassar esta fase com êxito.
O amor deles era o meu porto seguro e apesar de pequenita eles não deixaram de me instigar a ser mais e melhor. De exigir sempre o máximo de mim, nunca duvidando das minhas capacidades, mesmo se eu própria o fazia!
Seria cínica se vos dissesse que este período da minha vida não deixou marcas, afinal ninguém vai para a guerra e sai de lá sem cicatrizes, mas deu-me ferramentas fulcrais para enfrentar a vida. Ganhei calo desde cedo. Perseverança e resiliência foram qualidades que adquiri em doses extra por necessidade de "sobrevivência". Aprendi a ser cautelosa, inteligentemente reservada e a saber defender-me sozinha.
Hoje, tenho a certeza que esta má experiência fez de mim, modesta a parte, mas um mulherão preparado para enfrentar qualquer dificuldade que me apareça à frente.
Sim, tive uma infância e adolescência complicadas por ser diferente. Mas e daí? não morri por isso. Só me tornou mais forte! A C. tem toda a razão, quando refutava o meu argumento com o poder do amor. Foi a grandiosidade deste sentimento que sempre existiu em grande quantidade à minha volta o que mais me ajudou. Ele não fez os problemas desaparecer, mas foi fundamental para conseguir ultrapassá-los!
Falo da minha experiência, como podia falar da de qualquer outro miúdo que por alguma motivo é um pouco mais diferente do que a generalidade.
Por isso eu tenho a certeza que se estes casais homossexuais foram bons pais, souberem transmitir todo o apoio e esclarecimento que o garotito vai precisar para compreender e aceitar a realidade dele, mas essencialmente se entre estes existir amor incondicional que só existe entre pais e filhos, tudo é contornável e tudo se ultrapassa!
Por isso viva à co-adopção e viva a uma sociedade mais justa e igualitária!
Até breve**