sábado, 19 de julho de 2014

Todas as cartas de amor são ridículas, excepto... as que escrevo para ti II

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Sempre acreditei que existem palavras que se devem dizer com os olhos e não com a boca. Amo-te é uma delas. E eu amei-te, oh como te amei. Amei até todos aqueles defeitos que me irritam em ti. 
Amei-te a ponto de deixar-te sempre livre, para que tomasses as tuas próprias escolhas, a mim restava-me esperar que essas te conduzissem até mim.
Amei-te sem nunca tentar fazer-te meu. E se isto não é amor não sei mais nada desta vida. 
Hoje estou certa que não se sente este sentimento duas vezes. Com sorte, muita sorte, consegue-se sentir uma. Tal como estou certa, que escrevi a palavra "amei-te" no pretérito, tal como podia ter escrito no presente ou no futuro. Porque quando penso em ti, esta palavra encaixa na perfeição nos três tempos verbais. Amei-te, amo-te e amar-te-ei. Tão piroso isto, mas que queres? Amar-te deixa-me assim.
Voltar a ver-te, estarmos novamente juntos depois destes meses de afastamento têm sido horrível. Oh deliciosamente horrível...
Mas foi estranho, sei que também o sentiste. Aqueles instantes iniciais, a dúvida se te beijava na boca ou no rosto, tentar ter uma conversa banal, falar de superficialidades... e depois o silêncio. Silêncio constrangedor... desde quando é que esta ausência de som que era tão confortável entre nós se tornou incómoda?! Ralhei-te sem motivo e riste-te do meu mau humor. Odeio o teu riso, sabes? odeio, odeio, odeio de tanto que o amo.
Seguraste-me no rosto e obrigaste-me a olhar-te. E com aquela segurança na voz que sempre me fascinou, perguntaste-me se realmente queria ouvir tudo o que calaste durante estes meses?
Respondi-te que não... Não precisava de as ouvir, todo o som que queria naquele momento era-me transmitido pelos teus olhos, pelo teu sorriso e pelo calor do teu abraço apertado e cada um destes pequenos bocados teus gritavam tão alto que envergonhariam as tuas potentes cordas vocais.

(...)