segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Carta a um filho, Rudyard Kipling


Se fores capaz de não perder a cabeça quando todos à tua volta
perdem a deles e te culpam por isso;
Se fores capaz de confiar em ti mesmo quando os outros duvidam,
mas aceitando perguntar a ti mesmo se não terão um bocadinho de razão;
Se fores capaz de esperar sem deixar que a espera te canse,
ou, sendo alvo de calúnia, te recusares a caluniar,
ou, sendo odiado não te deixares levar pelo ódio
sem te tornares sobranceiro nem te perderes em palavras ocas;
se fores capaz de sonhar sem deixar que os sonhos te escravizem;
se fores capaz de pensar, mas não cruzares os braços;
se fores capaz de viver o triunfo e a desgraça
tratando-os, a ambos, como impostores que são;
se fores capaz de suportar ver a verdade das tuas palavras
deturpada por velhacos para a transformarem em armadilha para os tolos;
ou, vendo as coisas a que dedicaste a vida feitas em pedaços, te vergares para as reconstruir com ferramentas já gastas;
se fores capaz de juntar, numa mão cheia, todos os teus ganhos, arriscá-los num cara ou coroa,
perdê-los e começar do zero
sem nunca soltar um lamento;
se fores capaz de obrigar o teu coração, o teu espírito e o teu corpo s servirem a tua vontade mesmo depois de exaustos
e, assim, te mantiveres de pé quando já nada resta dentro de ti, excepto a força que te diz: "Aguenta";
se fores capaz de falar às multidões sem perder a virtude,
caminhar com réis sem deixar de ser simples;
se nem os teus inimigos nem os teus amigos mais queridos te conseguirem magoar;
se todos os homens contarem contigo, mas nenhum dispuser de ti;
se fores capaz de preencher o fugaz minuto
com sessenta segundos vividos plenamente,
tua será a terra e tudo o que nela existe,
e - o que mais importa - serás um Homem, meu filho!