sábado, 31 de outubro de 2015

"Para onde vão os guarda-chuvas" - Sugestão literária de Outubro



Olá amigos,

não quis que o mês terminasse sem vos deixar uma sugestão literária, afinal não seria um verdadeiro retorno ao mundo das letras sem esta crónica. Hoje deixo-vos uma preciosidade.
A verdade é que para alguém que faz da leitura um vício, que se assume sem vergonha como um livroólico, torna-se difícil encontrar um livro que nos deixe absolutamente rendidos. Talvez porque a exigência ao longo do tempo se torna maior, o olhar crítico é mais minucioso,  não é assim qualquer um que conquista um lugar no nosso top de livros. 
Pode inclusive estar muito bem escrito, ser de um escritor conceituadíssimo, ter uma excelente crítica, para os olhos de um leitor experiente, é preciso bem mais do que isso.
Porém, por vezes, somos deslumbrados por um livro que nos faz sentir pequenos. Infinitamente pequeninos perante a sua grandeza.
“Para onde vão os guarda-chuvas” é um dos mais belos livros que li nos últimos anos. Este foi o primeiro que me passou pelas mãos de Afonso Cruz, escritor que à altura desconhecia e que me agarrou feito lapa colado à rocha à sua escrita. Acreditem, a comparação não é exagero.
Afonso Cruz pega em cada personagem a quem dá vida, em cada pequena história, e tece um tapete com intensa criatividade, onde personagens e vidas se cruzam e interligam magistralmente.
“Para onde vão os guarda-chuvas” é isso mesmo: um tapete de tolerância e de bondade, de amor e de perdão.

"As personagens em "Para onde vão os guarda-chuvas" são peças, com diferente importância, num tabuleiro de xadrez (metáfora da vida). No entanto, a dicotomia entre Bem e Mal, entre peças negras e brancas, entre espaços brancos e negros não é nítida. O Bem não elimina o Mal; incorpora-o e domina-o.
As acções, sejam com intuitos bondosos ou maldosos, têm, por vezes, o efeito contrário ao pretendido, e o sujeito passivo, mergulhado na incompreensão, reage o melhor que consegue.
O universo de Afonso Cruz não se limita a criar empatia entre as palavras e a pré-existente sensibilidade do leitor. Não. O seu universo expande-se a cada livro. O leitor é transportado para sítios desconhecidos, “mentiras” com verdade no seu interior, ficção que quebra limites da realidade."

Afonso Cruz entrou com passadeira vermelha para o meu top de escritores favoritos, sendo que apesar de já ter lido outros dois livros deste escritor, com o mesmo fascínio e encantamento, "Para onde vão os guarda-chuvas" é especial.
Ler Afonso Cruz é inquietante pelas questões humanistas que foca, a par com Saramago, este possui igualmente a capacidade rara de abalar as minhas convicções, fazer-me reflectir e questionar-me.

Espero que gostem, não é uma escrita difícil de interpretar, todavia, é um livro para se ir digerindo e reflectindo. Aconselho por isso e apenas por isso, para um leitor que procure num livro mais do que um mero passatempo. É adequado quer para mulheres quer para homens e é perfeito para ser oferecido!

Até breve**