terça-feira, 3 de maio de 2011

Vejo o mundo através de ti


Escrevo-te para contrariar a tendência de já ninguém escrever cartas de amor como nós.
Todos os dias procuro-te na minha solidão. E vivo-te na minha saudade, sabendo que para além dela está também a tua.
Partilhamos a mesma alma.  Um bocado de mim que descobri-a por acaso de um destino, em ti. A outra parte que encaixa na minha.
O mar que ambos amamos, e que tantas e tantas vezes foi cúmplice e testemunha do nosso amor é hoje sinónimo de nosso sofrimento.
Afogo a tua ausência nas entranhas do meu corpo e instintivamente dou por mim a recolher as mãos de encontro ao peito e a pressiona-las sob o meu coração pequeno e apertado.
A tua recordação faz este meu órgão pulsante bater violentamente.
Suspiro...
Suspiro fundo e demoradamente com esperança de libertar as correntes que sufocam-me minha alma saudosa de ti.
E procuro-te, em casa sílaba que escrevo, em cada virgula, em cada espaçamento de tempo entre as tuas palavras. Por entre cada extensão do teu olhar, que busco prender dentro do meu. Por entre cada respiração nas pausas de um beijo.
Procuro-te, no sentir de cada recanto teu quando fecho os olhos. E tenho-te por instantes perto de mim. Tão perto que vejo o trajecto das tuas mãos segurar nas minhas. E Ouço a tua voz suave e rouca junto do meu ouvido, sussurrando um "quero-te", num sopro desfeito de um "amo-te" ... que tanto assusta-te dizer... que eu tanto quero ouvir.
Procuro-te, em cada manhã cinzenta e chuvosa. Em cada final de tarde, em que recordo todas as vezes que o contemplamos juntos, abraçados ao corpo um do outro em silêncio cúmplice. 
Procuro-te em cada noite que deito-me sozinha, numa cama que sem ti é um deserto demasiado grande.
E sinto-me pequena. Infinitamente pequena nesses momentos.
Recorro à lembrança de teu sorriso para adormece E é no teu ombro que adormeço todas as noites.
Procuro-te, nas pedras que piso e que choram pelos passos intervalados dos meus longos dias sem ti.
E nas paredes da minha alma arranhada pelo desejo, que sufocam as palavras que mais ninguém ouve, e mais ninguém sente para além de nos.
Procuro-te, e é entre todos os meus silêncios distantes que em ecos impelidos pela memória, a tua presença acontece. E és novamente meu.