sábado, 20 de outubro de 2012

E já dizia o "outro"... Existe 2 coisas infinitas... a estupidez humana e o Universo


Olá amigos,

hoje ao vir para casa no final do dia, deparei-me com uma situação que mais do que chocar-me entristeceu-me. O relógio devia estar a bater as 19h30m, estava portanto anoitecendo e fazia aquele frio típico do norte que as gentes de cá chamam de nortada. 
Caminhava em plena rua Júlio Dinis e ao aproximar-me de uma paragem de autocarro ali existente dei-me conta de que ao meu lado caminhava uma senhora já com alguma idade. É difícil precisar um número, mas se fosse a apostar, apontava para os setenta e muitos. Deslocava-se com bastante dificuldade, apoiada numa bengala e reparei que nesse preciso momento em que a observava, o seu andar tinha-se tornado mais agitado. Parecia querer correr. Mas a essa vontade não lhe acompanhavam as pernas pesadas e enferrujadas. O que a motivava a este esforço, é simples: o autocarro que a levaria (presumo) a casa estava chegando à paragem. 
Enquanto ele enchia de passageiros que o aguardavam, ao mesmo tempo que continuava a andar ela ia fazendo sinal com a bengala para que o motorista a visse e esperasse um pouco. 
Estávamos a uma distância não mais de 7 metros do local de paragem. Ainda pensei em fazer-lhe sinal também, mas quando o vi começar a andar, pareceu-me óbvio que moveria um pouco o autocarro para a alcançar. Qual não é o meu espanto, quando o vejo passar transversalmente por ela. 
Isto numa altura em que não fazia quase transito nenhum, numa via de circulação para o "bus" e a pouquíssimos metros do local de pagaram. Para aquele homem, ter parado uns metros mais à frente, ou mesmo ter aguardado um pouco, não teria causado qualquer embaraço ao transito, nem perderia mais do que um par de minutos. 
No entanto, apesar das tentativas que ela lá ia fazendo para que ele parasse, estas foram totalmente ignoradas. Circulou paralelamente a esta como se nada ali estivesse. 
Fiquei colada ao chão no meio do passeio completamente incrédula a ver isto acontecer. A vê-la resignada lentamente retomar a marcha. E o autocarro que a transportaria rumo a casa a afastar-se. 
Verdade que não é a primeira vez que vejo algo semelhante, mas é de facto um acontecimento muito raro de se ver cá no norte, onde as pessoas tem um coração maior que o mundo. Muito menos tratando-se de uma senhora que tinha certamente idade para ser avó ou pelo menos mãe daquele motorista. 
Fiquei mais do que furiosa, triste por presenciar este momento cruel, sem a menor justificação plausível. E se estão a pensar que ele não a viu, bom, é possível não direi que não, mas muito pouco provável, dado que não era ainda noite breu e a senhora estava, como já referi, literalmente a "invadir" com a bengala o corredor de circulação para ele a visse. 
Enquanto continuava o meu percurso, com o coração do tamanho de uma ervilha, lembrava-me da minha avó, de um dia não muito longínquo, da minha mãe, da minha tia B. naquela mesma situação. Foi impossível controlar a corrente de pensamentos enraivecidos que inundavam a minha cabeça. E então, ouvi a voz da minha mãe bater à porta do meu consciente e relembrar-me uma coisa que ela sempre me ensinou: "Não se deseja mal aos outros, que cai sempre em cima de nós". 
Decidi mudar de estratégia, mentalmente retirei todas as pragas que ao motorista estava rogando e ao invés disso, pedi a Deus algo tão simples quanto isto: não o leves cedo. Deixa-o envelhecer. Para que o peso da idade lhe impeça de correr. Para que tenha tempo de ter de usar uma bengala para se apoiar e se deslocar. Para que possa um dia sentir o que aquela mulher hoje sentiu.

Até breve**