Tira-me o pão, se quiseres,
Tira-me o ar, mas não me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a flor de espiga que desfias,
a água que de súbito jorra na tua alegria,
a repentina onda de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
por vezes com os olhos cansados do terem visto
a terra que não muda,
mas quando o teu riso entra
sobe ao céu à minha procura
e abre-me todas as portas da vida.
Meu amor, na hora mais obscura desfia
o teu riso, e se de súbito
vires que o meu sangue mancha as pedras da rua,
ri, porque o teu riso será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
Perto do mar no Outono,
o teu riso deve erguer a sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero o teu riso como a flor que eu esperava,
a flor azul, a rosa da minha pátria sonora.
Ri-te da noite, do dia, da lua,
ri-te das ruas curvas da ilha,
ri-te deste rapaz desajeitado que te ama,
mas quando abro os olhos e os fecho,
quando os meus passos se forem,
nega-me o pão, o ar, a luz, a primavera,
mas o teu riso nunca
porque sem ele morreria.
Pablo Neruda
Faz hoje 40 anos que este poeta, que é considerado o "poeta do amor" morreu. O seu legado é porém de um valor incalculável e inigualável! Que me perdoem os outros poetas que escreveram sobre esta temática, mas nenhum o fez com a grandiosidade de Pablo Neruda.
Até breve**