domingo, 20 de junho de 2010

Desassossego


Chegaste sem ser convidado. 
Inconveniente, 
entraste alheio aos meus pretextos, que a ti mais pareciam soar a melodia de acasalamento.
Presunçoso,
ignoraste o meu  desagrado perante a tua inesperada presença. 
E com luxuria no olhar, sorriste triunfante à medida que o meu corpo me ia traindo. 
Beligerante e desobediente ganhava vida própria,
desmentia descaradamente a veracidade das palavras que te atirava como setas envenenadas. 
Seguraste-me o braço,
tentei em vão fazer soltar 
e obrigaste-me a olhar-te. 
Inclinaste-te e roçaste-me ao de leve o rosto com teus lábios. 
Abanaste a cabeça em silêncio, e selaste-me os lábios com os dedos, 
como se as minhas palavras finalmente te ferissem. 
Não demorou até perder a noção da realidade.
O fogo das tuas mãos roubou-me a vergonha e o medo. 
Desejei nelas perder-me e não mais regressar.
Embriagada.
Era assim que me sentia. 
Era esse o efeito que tinhas em mim.
Sorriste-me docemente, encorajando-me a perder-me em ti.
As tuas mãos desenharam-me o corpo,
e escreveram na minha pele uma maldição que haveria de me perseguir toda a vida. 
Da mesma forma que chegaste, saíste. 
Teria gostado de voltar a ver-te uma última vez. 
Poder olhar-te nos olhos e dizer-te coisas que não sei como as escrever. 
Desde que desapareceste, 
o tempo tornou-se pesado. 
E cada hora do meu dia repete o vazio da tua ausência.

sábado, 19 de junho de 2010

Lua no teu umbigo



"Talvez consiga adormecer
se não pensar nos teus beijos
que ainda ardem neste deserto
que é a minha pele sem ti.
Sinto-os
como formigas doidas a correrem
por mim acima desvairados, sem norte,
perdidos quem sabe se na pressa
de voltarem a ser beijos
mais fundos que a pele,
sedenta desse toque que só tu consegues,
quando o calor da tarde que começa te incendeia
em labaredas por inteiro,
dentro e fora, meu Vesúvio de Janeiro
onde me deito e adormeço.

Deixa-me voar de novo colado a ti,
meu pássaro sonhador.
Anda, vamos nesta brisa quente
à procura de uma terra que não conheço
e deixa-me desbrava-la
como se o mundo acabasse
agora, nesta tarde morna, de luz coada,
perdida no poente
imaginando,
quando os teus olhos me falavam sem palavras
e me diziam que tudo era possível
na caminhada sem medo.

Deixa-me partir no teu beijo que tardo
em querer esquecer.
como quem sussurra um segredo,
abre-me o teu peito
em que me deito
e estremeço.

Deixa-me voar contigo.
Deixa-me tocar
a lua no teu umbigo."

Alberto RioGrande

sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago


 Olá amigos, 

Que pena ouvir hoje que este grande senhor das letras morreu. Aos 87 anos, Saramago abandona o mundo físico, deixando para trás um grande legado, de obras e memórias. A cultura e literatura portuguesa estão claramente de luto. 
Não posso dizer que seja uma conhecedora de Saramago. Deste senhor apenas li "Ensaio sobre a cegueira"  e " As intermitências da morte", apesar disso, ambos estão nos meus livros de eleição. Especialmente este ultimo.
Com uma visão muito humana, sendo quase poeticamente doce e ao mesmo tempo inquietante, é assim que sempre recordarei a escrita de Saramago.
Foi um espírito livre, que se atreveu a a sê-lo verdadeiramente. Incompreendido? Claro, todos os génios acabam sendo. Felizmente nunca se deixou intimidar pelas criticas e pelo pouco reconhecimento do seu valor. A sua impertinência era de facto das coisas que mais apreciava neste senhor!

Obrigada pela tua obra!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Alfarrabista " Chaminé da Mota"

Olá amigos,

Descobri a não muitos dias atrás uma livraria no Porto, que deixou-me como uma criança pequena no meio de uma loja de brinquedos!
Depois de um almoço com uma das minhas companhias de eleição, quando nos dirigirmos para o trabalho, deparamos-nos com esta belíssima pérola!

Um pouco desiludidas por se encontrar encerrada para hora de almoço, prometemos lá voltar no final do dia. E assim fizemos.
Por já ser um pouco tarde, entramos naquele "santuário" apenas para "matar" a curiosidade. Só 5 minutos, dissemos!
Estes 5 minutos tornaram-se à vontade em 30!!! E só a muito custo conseguimos arrastar os nossos corpos de lá para fora!
Já tinha entrado em muitos outros alfarrabistas, que felizmente ainda existem em grande número nesta Cidade, mas nenhum tão fantástico como este!
Pareceu-me que estava a entrar no "cemitério dos livros esquecidos" descrito na obra de Zafón. Milhares e Milhares de livros antigos. Livros velhos mas que respiravam vida e alma.

" A alma de quem os escreveu e a alma dos que o leram e viveram e sonharam com eles. Cada vez que um livro muda de mãos, cada vez que alguém desliza o olhar pelas suas páginas, o seu espírito cresce e torna-se forte." 
Os alfarrabistas são um género de guardiões. Asseguram que os livros que se perderam no esquecimento e no tempo, vivem para sempre, esperando chegar às mãos de um novo leitor.  

Por meia hora deambulei por aquela livraria que cheirava a papel velho. Deixei que a minha mãos acaricia-se aquelas capas de couro e "avistei entre os títulos sumidos pelo tempo, palavras em línguas que reconhecia e dezenas de outras que era incapaz de catalogar." 
Fiquei enfeitiçada pela atmosfera daquele lugar mágico! 

 Fundada em 1981, a livraria Chaminé da Mota fica situada na Rua das Flores, nº28, no coração da bela Invicta, ou seja na zona antiga da cidade, perto do mercado Ferreira Borges. 

Até breve**

domingo, 13 de junho de 2010

Movies!!!!

Olá amigos,

Hoje vou falar-vos de dois filmes que vi recentemente e que considero merecerem destaque aqui no blogue! Em tom de critica tive um bom amigo que outrora disse-me que só escrevia de livros, cinema e música! Isto não é bem assim, mas só para não te contrariar, cá estou eu para escrever sobre cinema! =P

The Road
Gostei mesmo muito. Especialmente por ser um filme diferente. Aqui o herói não tenta salvar o mundo (sem salvação possível...diga-se...) mas apenas e só em sobreviver, ou melhor, em viver para proteger o filho pequeno.  
É um filme que faz reflectir sobre o futuro negro da Humanidade. Num mundo completamente diferente do que hoje conhecemos, onde a sobrevivência é palavra de ordem! 
Sem os caprichos do mundo moderno, as necessidades básicas voltam a ocupar um lugar primordial na vida do Homem. 
É triste ver o que as pessoas fariam numa realidade como esta. Trás claramente ao de cima, o animal que somos. Impera a lei do individualismo e da irracionalidade. É cada um por si! E o canibalismo é tido como aceite e como uma consequência necessária.
Curiosamente, nestas circunstâncias alimentar-se de outro ser humano para sobreviver não é do pior que o Homem consegue fazer aos seus semelhante ...acreditem! 
Recomendo fortemente! 

My one and only 
Gostei! Surpreendeu-me! Estava a espera que fosse mais um comédia romântica com final previsível desde o inicio do filme. Enganei-me! 
Não é uma história inovadora, mas é cativante. A protagonista, cansada das constantes infidelidades do marido decide começar uma vida nova. 
Junta todo o dinheiro que consegue e parte com os dois filhos adolescentes numa aventura pelo País fora, em busca de encontrar o homem ideal com quem reconstruir a família! 
Este objectivo, coloca Ann em diversas situações caricatas e desastrosas muito engraçadas! As duvidosas conquistas românticas da protagonista são o principal ponto do enredo, todavia, as experiências que vão vivendo os filhos e as suas expectativas pessoais oferece-nos uma mensagem interessante sobre a importância da família e da paternidade no crescimento e desenvolvimento dos mesmos. 
Gostei especialmente do final, não estava a espera!
Não é brilhante. É um filme leve, bom astral, mas com uma mensagem importante! E com um final interessante para uma comédia romântica!

Até breve**

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Fazes-me falta

Meu anjo, dois anos já passaram desde que vi o teu lindo rosto pela última vez!
Hoje, voltei novamente a sentir as lágrimas a escorrer pelo meu rosto.
Tristeza
Nostalgia
Mas a cima de todo o turbilhão de sentimentos...
Saudade
Continua a doer muito saber-te longe
dos meus olhos
das minhas mãos 
dos meus braços
Sinto falta do teu sorriso sabes?
Do som do teu riso, da melodia da tua voz 
do teu abraço apertado
Ninguém abraça-me o corpo como tu abraçava

Hoje mais do que em qualquer outro dia,

Fazes-me falta!

See you soon my love

sexta-feira, 4 de junho de 2010

A Sombra do Vento


Olá amigos,

Tenho para vós uma nova actualização literária!! 
Este foi o meu ultimo companheiro das horas vagas! Do escritor Carlos Zafón este livinho assusta qualquer pessoa que não tenha muita paciência para se dedicar à leitura, com as suas 400 paginas!!! Além de não ser propriamente "baratucho", dado que custa uns respeitosos 22 euros...mas vale a pena cada cêntimo! 
Pequei no livro com alguma desconfiança. Desconhecia o escritor e a sua escrita e não sou propriamente aficionada por livros de mistérios. Todavia, senti-me agarrada ao mesmo desde a primeira página até a última! É sem dúvida dos melhores que já me passou pelas mãos. 
Magistralmente bem escrito, dá-nos a conhecer uma história fantástica! Achei o enredo muito completo. A história tem de tudo, mistério, morte, perseguições, sexo, amizade, política e romance. 
É um livro algo cinzento que retrata bem a época histórica que Zafón quis dar a conhecer aos leitores. Passa-se sob o palco de Barcelona durante o pós-guerra civil. Altura em que as pessoas viviam em constante medo e com enorme desanimo em relação ao seu futuro e ao de Espanha.
De qualquer forma, é curioso como o escritor suaviza esta realidade com conversas de esperança e humor inteligente, marcadamente irónico,  nomeadamente através da personagem "Firmin"! 
O toque romântico e trágico das duas histórias de amor que apesar de espaçadas no tempo acabam interligando-se é a cereja em cima do bolo. 
Duas histórias que a partida nada tem a ver uma com a outra mas que em tudo são semelhantes,excepto o seu final!
Foi daqueles livros que não conseguia largar mesmo tendo mil e outras coisas para fazer! 

Muito, muito bom mesmo!

Até breve**