Inconveniente,
entraste alheio aos meus pretextos, que a ti mais pareciam soar a melodia de acasalamento.
Presunçoso,
ignoraste o meu desagrado perante a tua inesperada presença.
E com luxuria no olhar, sorriste triunfante à medida que o meu corpo me ia traindo.
Beligerante e desobediente ganhava vida própria,
desmentia descaradamente a veracidade das palavras que te atirava como setas envenenadas.
Seguraste-me o braço,
tentei em vão fazer soltar
e obrigaste-me a olhar-te.
Inclinaste-te e roçaste-me ao de leve o rosto com teus lábios.
Abanaste a cabeça em silêncio, e selaste-me os lábios com os dedos,
como se as minhas palavras finalmente te ferissem.
Não demorou até perder a noção da realidade.
O fogo das tuas mãos roubou-me a vergonha e o medo.
Desejei nelas perder-me e não mais regressar.
Embriagada.
Era assim que me sentia.
Era esse o efeito que tinhas em mim.
Sorriste-me docemente, encorajando-me a perder-me em ti.
As tuas mãos desenharam-me o corpo,
e escreveram na minha pele uma maldição que haveria de me perseguir toda a vida.
Da mesma forma que chegaste, saíste.
Teria gostado de voltar a ver-te uma última vez.
Poder olhar-te nos olhos e dizer-te coisas que não sei como as escrever.
Desde que desapareceste,
o tempo tornou-se pesado.
E cada hora do meu dia repete o vazio da tua ausência.